terça-feira, 24 de maio de 2011

Transporte coletivo x individual

Respondendo por aqui a pergunta levantada no Twitter por @Nataliasena, diante de um debate iniciado por @thiagoaugustom.

O transporte colegivo eficiente, confortável e acessível não desistimula o uso do carro?

Desistimula. Mas não na velocidade que o meio urbano precisa.

O que realmente atinge esse objetivo são políticas de desistimulo ao uso de veículos individuais de transporte. Parcelar carros em 72 vezes, permitir estacionamentos em vias públicas, reduzir IPI na produção de carros populares, não privilegir vias exclusivas para transporte coletivo, entre outras medidas, mostram que nosso sistema privilegia, em verdade, a solução individual de transporte. E fazer isso, um estudioso da área já disse (me permitam não lembrar o nome), é querer apagar incêndio com gasolina. O Estado não tem como acompanhar o vertigionoso aumento da frota individual nestas condições que o favorecem, dotando as cidades da infra-estrutura necessária.

E mais, criar essa infra-estrutura é caro!! Lembrem que a abertura ou alargamento de vias, por exemplo, demanda a desapropriação de imóveis em grandes cidades, e o próprio metro quadrado de asfalto construído não é barato. Fora o controle de semáforos e afins.

Voltando à análise do desistimulo só pela melhoria do transporte coletivo, acho que seja uma questão simples de explicar. Pense em você. Mesmo que existisse um transporte coletivo razoável, mas você pudesse, tivesse condições, fosse viável para você usar um carro particular, você não usaria? Pense no calor de nossa cidade. Pense em você se deslocando para as paradas (mesmo que estas sejam cobertas). Pense nos dias de chuva. Pense em você acordando todos os dias 30 minutos mais cedo, perdendo aquela soneca gostosa (mesmo que o transporte seja rápido, ele em regra demorará mais que o seu trajeto com carro).

O problema é que do mesmo jeito que a gente pensa, os outros também o fazem. Todo mundo gosta, realmente, de comodidade. E isso não é ruim. É natural do ser humano. Porém, vivendo num meio urbano, nesse amontoado de gente, o cômodo para cada um não é o cômodo para todos.

Concluindo essa pequena análise de um não especialista, a melhoria da mobilidade exige sim uma qualificação nos transporte públicos, mas sem desistimulo ao transporte individual o caos continua e só aumenta.

Em disistimulo ao transporte individual leia-se proibir estacionamento em vias públicas, não formentar a produção e o consumo de veículos individuais, mas sim subsidiar o consumo e utilização de transporte coletivo, com redução de carga tributária, construção vias exclusivas, e a busca de tarifas efetivamente baratas.

Tem outras questões em torno disso. Por exemplo, a Grande Natal está adotando um modelo de ocupação geográfica que já se mostrou caótica em outras grandes cidades, como São Paulo. Nesse modelo, os habitantes se espalham em grandes distâncias. Por exemplo, hoje as pessoas que trabalham e estudam em Natal estão indo morar praticamente no final de Parnamirim. Há um tempo atrás, Nova Parnamirim era o cinturão dessas novas moradias. Depois, passou-se para Parnamirim, próximo ao Parque Aristófeles Fernandes. Agora esse cinturão foi deslocado para quase o final de Parnamirim. Resultado, engarrafamentos, problemas de deslocamento, principalmente na BR.

Outro exemplo. O local onde as escolas e hospitais públicos estão localizados influencia diretamente na questão da mobilidade urbana. Hoje as escolas estaduais principais estão localizadas na Cidade Alta. Porém, a população usuária desse serviço público não reside nesse bairro. A discussão sobre isso perpassa a mobilidade urbana.

O Equador teve uma experiência de êxito nesta área. Reconhecida mundialmente. Vejam mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/TransMilenio

Em resumo, é isso. Abraços.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Oferta de Emprego

Precisa-se urgentemente de: idealistas.
Contratante: o mundo.
Função: salvar o planeta e seus habitantes.
Remuneração: algumas desilusões, alguns sonhos frustrados, satisfação de fazer algo pelos outros e não mais muita coisa. Nada de dinheiro.
Requisitos: disponibilidade para dormir no emprego, coragem, esperança, perseverança e capacidade de sonhar. Não se exige experiência em sindicatos, partidos políticos, grêmios estudantis ou conselhos comunitários. É melhor nem ter essas experiências.
Trabalho imediato.
Entrar em contato com: você mesmo.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Um ano depois...

Um ano depois de sua morte, publico minha homenagem àquele que movimentou as massas populares do Rio Grande do Norte em vida. Escrevi o texto à época de sua morte, mas não o postei. Já estava na hora...

Réquiem para um político

Mania de brasileiro – santificar os políticos mortos. Depois de falecidos, eles se transformam em verdadeiros mártires democráticos, homens que viveram para o povo e, por isso, do povo recebem suas exéquias. Multidões às ruas: crianças gritando – até mesmo sem saber a razão – donas-de-casa chorosas e velhos respeitosos prestam suas últimas homenagens aos corpos que caminham para as sepulturas. Assim os brasileiros os transfiguram em heróis.

Quando soube da morte do líder político Aluízio Alves, logo imaginei a comoção que tomaria parte da população do estado, principalmente dos que viveram intensamente as campanhas do líder populista, famosas por grandes comícios, passeatas, vigílias, enfim, manifestações populares. Não fiquei surpreso, portanto, com as declarações de várias personalidades norte-rio-
grandenses, tampouco com as reportagens veiculadas na imprensa.

Li, assisti e ouvi por vários dias a mesma litania: de democrata coerente a exemplo de líder político a ser seguido, Aluízio Alves recebeu todos os elogios possíveis. Mas, ao mesmo tempo em que escutava a isso, me perguntava: “e os que apresentam uma versão diferente do velho político, por que não falam?”.

Nesses poucos anos de minha vida, aprendi que os silêncios revelam muito mais do que as falas: são os gritos abafados, as vozes que ecoam incompreensíveis, as versões dos derrotados pelo poder. Assim, movido pela curiosidade, voltei à história do Rio Grande do Norte e me deparei com um Aluízio diferente. Para atestar isso, passarei a narrar a partir de agora.

1964. Quatro anos antes, uma aliança formada pelos jovens e promissores políticos Aluízio Alves e Djalma Maranhão, derrotou o candidato do governador Dinarte Mariz, o deputado federal Djalma Marinho. Eles foram eleitos governador e prefeito, respectivamente. A coligação vitoriosa, denominada Cruzada da Esperança, recebeu amplo apoio popular. Porém, pouco tempo depois, governador e prefeito já não se entendiam.

Com a ascensão do presidente João Goulart ao poder, após a renúncia de Jânio Quadros, o quadro político brasileiro abalou-se mais ainda, e a polarização ideológica aumentou. Neste período ocorriam grandes discussões no campo da cultura e educação no Brasil, e, como nos descreve Santuza Cambraia Naves, entre os universitários, havia aqueles que se comprometiam com uma política cultural voltada para um movimento de conscientização e transformação da sociedade brasileira. Em Natal não era diferente: priorizando os programas de alfabetização popular e conscientização política, o prefeito Djalma Maranhão criou a campanha “De Pé no Chão Também se Aprende a Ler”. Enquanto isso, o então governador Aluízio Alves se utilizava do dinheiro americano da Aliança para o Progresso para tocar, com tranqüilidade, o barco do seu governo.

As divergências políticas se acentuaram e o primeiro de abril trouxe surpresas maiores do que as esperadas, pois um golpe militar quebrou a normalidade democrática. Enquanto Aluízio Alves esperava o acerto das forças militares, Djalma Maranhão anunciou, em nota oficial, que se lançava em defesa da democracia e do estado de direito no Brasil. A exemplo de outros políticos, o prefeito foi preso, perseguido e exilado em Montevidéu, onde morreu.

Aluízio Alves, em toda sua coerência democrática, ao contrário, criou uma Comissão de Investigação Paralela à do Exército, “com poderes especiais para processar, prender e encarcerar os supostos subversivos” norte-rio-grandenses, como nos conta Mailde Pinto Galvão. Os “subversivos” que se livravam da comissão militar eram também investigados pelos civis. Diga-se, de passagem, que não há registro de nenhum outro governador que tenha criado um órgão semelhante a esse.

Ainda nos anos sessenta, Aluízio foi cassado e passou a integrar a oposição ao regime militar. De líder democrático a líder que apóia a ditadura e que depois a ela se opõe, ele foi um político de uma lógica torta.

Assim, eu me ponho a pensar nas vozes silenciadas pelas perseguições dos civis comandados pelo então governador, nas vidas cerceadas de liberdade pelas grades físicas e mentais de uma ditadura que ele próprio ajudou a implantar no Rio Grande do Norte.

Não nego suas qualidades de líder político nem seus feitos na história do nosso Estado. Mas, para mim, a morte não redime os pecados de ninguém.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Réquiem

Sem qualquer tipo de humor negro, mas vocês já foram a algum enterro no qual o defunto foi execrado pelos presentes? Já leram alguma homenagem póstuma que ridicularizava o morto? Não? Eu também.

Deve existir algum temor cristão que nos apavora ao ponto de falarmos bem até daqueles que fizeram as piores ações na Terra. Será que não é o medo de que o defunto volte para cobrar um “rito de passagem” mais tranqüilo aos mundanos? O historiador francês Jean-Claude Schmitt, em Os vivos e os mortos na sociedade medieval, nos lembra que, no imaginário medieval cristão, “o morto podia aparecer a um parente ou amigo para reclamar-lhe os sufrágios de que tinha maior necessidade”. Vai ver que ainda existe um resquício desse imaginário atualmente e nós temamos ser mal-assombrados por tais fantasmas.

Por isso, talvez, as pessoas sempre interfiram quando alguém resolve falar sobre um morto:

- “Deixe pra lá. Ele já morreu e não pode respondê-lo.” – dizem.

Em todo caso, a melhor definição que já encontrei para todas aquelas honras de última hora está no livro Um Deus passeando pela brisa da tarde, do escritor português Mário de Carvalho:

“O decênviro Pôncio Velutio Módio produziu um arguto e prolongado elogio fúnebre, inspirado em exemplos conhecidos, com uns toques de Plutarco, duas frases inteiras de Tibério Graco e abundantes furtos de Cícero, muito descarados. Se Trifeno não o tivesse merecido vivo, não o desmereceria totalmente em morto. Que importa, se uma oração fúnebre não se adapta exatamente ao homenageado? Quem sabe como foi, realmente, um homem? Se a morte não o tivesse soprado tão cedo, talvez ainda Trifeno viesse a efetuar as benfeitorias que lhe eram atribuídas. Não é, verdadeiramente, ao homem que viveu, e cujos despojos ali jazem, sobre a pira funerária, na sua inerme materialidade, que se dirigem os elogios. Antes ao projeto de homem que as circunstâncias poderiam ter revelado. Todos, incluindo o interessado, prefeririam ter sido íntimos deste último. É, pois, legítimo e mesmo obrigatório que se o convoque. Uma elaborada homenagem, como aquela, lustra quem a profere, lustra quem a ouve e lustra a cidade, acrescentando-a com a revelação de mais um cidadão distinto, agora infortunadamente falecido, em que antes – com culpa – ela nem havia atentado.”

Lindo, não é? Espero que alguém faça igual quando chegar minha hora.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Razão e sensibilidade?

Gostaria de ter iniciado minha participação no blog de outra maneira. Porém, como meu nome já estava virando enfeite e juntando poeira, resolvi começar apenas discutindo um pouco a repercussão do artigo Razão e Sensibilidade, do professor Renato Janine Ribeiro, publicado em 18 de fevereiro deste ano, ou seja, um mês atrás, na Folha de São Paulo.

Marcado pelo horror da morte do menino João Hélio, Renato Janine Ribeiro, professor de Ética da Universidade de São Paulo, escreveu algo que me deixou boquiaberto. No artigo, ele deixava entender que defendia a tortura e a pena de morte, questionando, inclusive, os direitos humanos. Em determinado momento, chegou a lançar uma pergunta ao ar: “É-se humano somente por se nascer com certas características?”.

O que mais me impressionou no artigo não foi o que nele estava escrito, mas de onde veio o discurso – de um intelectual, um dos maiores nomes da filosofia nacional, professor de Ética da maior universidade do país. Um homem que aparece com freqüência nos principais meios de comunicação do Brasil – pois apresenta um programa no canal Futura, das organizações Globo – e escreve em vários jornais de circulação nacional, tal como a Folha. De onde se esperava maior razoabilidade e sensatez, veio um discurso que justificava a raiva da turba, como diria a melhor resposta ao artigo, escrita pelo professor Idelber Avelar.

No entanto, acredito que a leitura do texto de Renato Janine nos permita iniciar uma discussão acerca do problema da criminalidade no Brasil, principalmente nos grandes centros urbanos. Logo após a morte de João Hélio, surgiram debates nos quais a redução da maioridade penal foi sugerida com maior freqüência. Eu me pergunto se essa medida resolveria o problema da violência no nosso país.

Quem leu ou assistiu Falcão – Meninos do Tráfico, de MV Bill e Celso Athayde, percebeu que o tráfico se utiliza, cada vez mais, de menores de 18 anos. Tudo bem. Só que a maioria daqueles garotos não passava dos 14 ou 15 anos! Quer dizer, se reduzirmos a idade de cadeia, a criminalidade seduzirá meninos cada vez mais novos, talvez até crianças, para a realização de serviços “menos perigosos”, como aviãozinho ou o próprio falcão, que fica vistoriando a favela, de olho na polícia.

Por mais que peçamos rigor nas leis contra crimes hediondos ou a tal redução, nada adiantaria se não existisse um programa em longo prazo que se utilizasse de educação, cidadania e reintegração de menores infratores à sociedade. E a pobreza, como quis insinuar a Veja, não é uma falsa questão do crime. Não é a única também.

Acredito que essas questões devem ser discutidas sempre pautadas na razão. O discurso inflamado pode até ser bonito e popular, mas nem sempre é correto. Defender a razoabilidade não é perdoar assassinos: é compreender que política de estado não pode ser modificada assim, de sopetão.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Torcedor: a arte de ser sofista

Não importa quão ruim esteja o time do coração de um torcedor. Para ele, seu time é sempre o melhor. O time adversário nunca, em hipótese alguma, sob nenhuma condição, será superior. É assim entre ABC e América, Flamengo e Fluminense, Cruzeiro e Atlético, Grêmio e Internacional, Fortaleza e Ceará... Enfim, é assim em todo o Brasil, ou melhor, em todo o mundo.

Só que a realidade muitas vezes é cruel. O time não ajuda mesmo. O ataque não marca, o meio-campo não cria e a zaga é vazada. Mas para o torcedor não tem essa história. Ele pode até admitir perante seus iguais, seus companheiros de sofrimento, que o time não presta, mas jamais perante um adversário. E, para isso, ele precisa pedir socorro à filosofia. Mais especificamente ao sofismo.

Os sofistas foram filósofos que viveram na Grécia Antiga por volta dos séculos V e IV a.C. Famosos pelo domínio da retórica, eram professores viajantes que vendiam seus ensinamentos para alunos interessados em aprender as técnicas da argumentação e a serem eloqüentes para poderem impor seus interesses e argumentos nas assembléias das póleis gregas. Ficaram na história como profissionais persuasivos e capazes de desvirtuar a realidade e de enganar, se fosse preciso, para conseguir convencer – assim como os torcedores contemporâneos.

Certamente Protágoras, um dos maiores representantes dos sofistas clássicos, ficaria orgulhoso em ver a quantidade de flamenguistas utilizando-se de seus ensinamentos. Não interessa se nos últimos anos a única função do Flamengo tenha sido brigar para não ser rebaixado no campeonato brasileiro, pois ele é o “único time do Brasil a ser pentacampeão brasileiro” – “todo mundo tenta, mas só o flamengo é penta!” –. Há controvérsias, mas, enfim, em termos de sofismas os flamenguistas são muito bons. Isso não se pode negar.

Agora, no Rio Grande do Norte não há discussão: os abcdistas são imbatíveis! Não importa que o time não participe nem da 3ª divisão, e muito menos ainda que tenha perdido do América. São meros acasos. Um time que tem Adelino como esperança de gols, é o único do RN com estádio próprio – e que estádio! – e ainda é o time do estado com maior número de títulos não poderia jamais deixar de ser o melhor do Rio Grande do Norte. E tem mais: não tenho nem dúvidas que Protágoras também seria abcdista.
Caio Vitor

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

A que o machismo pode levar

Por machismo se faz chorar e sofrer: mulheres, filhos, mães, mas, sobretudo, o próprio machista. Quem mais sofre com ele é o próprio dono. E disso não tenham dúvidas.
Por machismo envaidece-se, angustia-se, adoece-se, enlouquece-se. Humilha-se, espanca-se, mata-se. Se faz murchar e secar, não importa quão bela seja a flor.
Por machismo não se ama outra pessoa, caso essa outra seja outro. Homem não tem amigo, tem companheiro, camarada, no máximo, um amigo de copo.
Por machismo se paga por sexo, se mente que transou, se esconde a virgindade, se mede o sexo, se tem vergonha ou orgulho dele.
Por machismo não se faz amor, se come.
Por machismo tudo se resume a sexo.
Por machismo muitas besteiras se faz, até mesmo deixar de viver o grande amor, para viver a vaidade do macho.