segunda-feira, 19 de março de 2007

Razão e sensibilidade?

Gostaria de ter iniciado minha participação no blog de outra maneira. Porém, como meu nome já estava virando enfeite e juntando poeira, resolvi começar apenas discutindo um pouco a repercussão do artigo Razão e Sensibilidade, do professor Renato Janine Ribeiro, publicado em 18 de fevereiro deste ano, ou seja, um mês atrás, na Folha de São Paulo.

Marcado pelo horror da morte do menino João Hélio, Renato Janine Ribeiro, professor de Ética da Universidade de São Paulo, escreveu algo que me deixou boquiaberto. No artigo, ele deixava entender que defendia a tortura e a pena de morte, questionando, inclusive, os direitos humanos. Em determinado momento, chegou a lançar uma pergunta ao ar: “É-se humano somente por se nascer com certas características?”.

O que mais me impressionou no artigo não foi o que nele estava escrito, mas de onde veio o discurso – de um intelectual, um dos maiores nomes da filosofia nacional, professor de Ética da maior universidade do país. Um homem que aparece com freqüência nos principais meios de comunicação do Brasil – pois apresenta um programa no canal Futura, das organizações Globo – e escreve em vários jornais de circulação nacional, tal como a Folha. De onde se esperava maior razoabilidade e sensatez, veio um discurso que justificava a raiva da turba, como diria a melhor resposta ao artigo, escrita pelo professor Idelber Avelar.

No entanto, acredito que a leitura do texto de Renato Janine nos permita iniciar uma discussão acerca do problema da criminalidade no Brasil, principalmente nos grandes centros urbanos. Logo após a morte de João Hélio, surgiram debates nos quais a redução da maioridade penal foi sugerida com maior freqüência. Eu me pergunto se essa medida resolveria o problema da violência no nosso país.

Quem leu ou assistiu Falcão – Meninos do Tráfico, de MV Bill e Celso Athayde, percebeu que o tráfico se utiliza, cada vez mais, de menores de 18 anos. Tudo bem. Só que a maioria daqueles garotos não passava dos 14 ou 15 anos! Quer dizer, se reduzirmos a idade de cadeia, a criminalidade seduzirá meninos cada vez mais novos, talvez até crianças, para a realização de serviços “menos perigosos”, como aviãozinho ou o próprio falcão, que fica vistoriando a favela, de olho na polícia.

Por mais que peçamos rigor nas leis contra crimes hediondos ou a tal redução, nada adiantaria se não existisse um programa em longo prazo que se utilizasse de educação, cidadania e reintegração de menores infratores à sociedade. E a pobreza, como quis insinuar a Veja, não é uma falsa questão do crime. Não é a única também.

Acredito que essas questões devem ser discutidas sempre pautadas na razão. O discurso inflamado pode até ser bonito e popular, mas nem sempre é correto. Defender a razoabilidade não é perdoar assassinos: é compreender que política de estado não pode ser modificada assim, de sopetão.

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