Respondendo por aqui a pergunta levantada no Twitter por @Nataliasena, diante de um debate iniciado por @thiagoaugustom.
O transporte colegivo eficiente, confortável e acessível não desistimula o uso do carro?
Desistimula. Mas não na velocidade que o meio urbano precisa.
O que realmente atinge esse objetivo são políticas de desistimulo ao uso de veículos individuais de transporte. Parcelar carros em 72 vezes, permitir estacionamentos em vias públicas, reduzir IPI na produção de carros populares, não privilegir vias exclusivas para transporte coletivo, entre outras medidas, mostram que nosso sistema privilegia, em verdade, a solução individual de transporte. E fazer isso, um estudioso da área já disse (me permitam não lembrar o nome), é querer apagar incêndio com gasolina. O Estado não tem como acompanhar o vertigionoso aumento da frota individual nestas condições que o favorecem, dotando as cidades da infra-estrutura necessária.
E mais, criar essa infra-estrutura é caro!! Lembrem que a abertura ou alargamento de vias, por exemplo, demanda a desapropriação de imóveis em grandes cidades, e o próprio metro quadrado de asfalto construído não é barato. Fora o controle de semáforos e afins.
Voltando à análise do desistimulo só pela melhoria do transporte coletivo, acho que seja uma questão simples de explicar. Pense em você. Mesmo que existisse um transporte coletivo razoável, mas você pudesse, tivesse condições, fosse viável para você usar um carro particular, você não usaria? Pense no calor de nossa cidade. Pense em você se deslocando para as paradas (mesmo que estas sejam cobertas). Pense nos dias de chuva. Pense em você acordando todos os dias 30 minutos mais cedo, perdendo aquela soneca gostosa (mesmo que o transporte seja rápido, ele em regra demorará mais que o seu trajeto com carro).
O problema é que do mesmo jeito que a gente pensa, os outros também o fazem. Todo mundo gosta, realmente, de comodidade. E isso não é ruim. É natural do ser humano. Porém, vivendo num meio urbano, nesse amontoado de gente, o cômodo para cada um não é o cômodo para todos.
Concluindo essa pequena análise de um não especialista, a melhoria da mobilidade exige sim uma qualificação nos transporte públicos, mas sem desistimulo ao transporte individual o caos continua e só aumenta.
Em disistimulo ao transporte individual leia-se proibir estacionamento em vias públicas, não formentar a produção e o consumo de veículos individuais, mas sim subsidiar o consumo e utilização de transporte coletivo, com redução de carga tributária, construção vias exclusivas, e a busca de tarifas efetivamente baratas.
Tem outras questões em torno disso. Por exemplo, a Grande Natal está adotando um modelo de ocupação geográfica que já se mostrou caótica em outras grandes cidades, como São Paulo. Nesse modelo, os habitantes se espalham em grandes distâncias. Por exemplo, hoje as pessoas que trabalham e estudam em Natal estão indo morar praticamente no final de Parnamirim. Há um tempo atrás, Nova Parnamirim era o cinturão dessas novas moradias. Depois, passou-se para Parnamirim, próximo ao Parque Aristófeles Fernandes. Agora esse cinturão foi deslocado para quase o final de Parnamirim. Resultado, engarrafamentos, problemas de deslocamento, principalmente na BR.
Outro exemplo. O local onde as escolas e hospitais públicos estão localizados influencia diretamente na questão da mobilidade urbana. Hoje as escolas estaduais principais estão localizadas na Cidade Alta. Porém, a população usuária desse serviço público não reside nesse bairro. A discussão sobre isso perpassa a mobilidade urbana.
O Equador teve uma experiência de êxito nesta área. Reconhecida mundialmente. Vejam mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/TransMilenio
Em resumo, é isso. Abraços.
terça-feira, 24 de maio de 2011
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Um comentário:
Entendi o que vc pontuou. A política de mobilidade tem que adotar medidas integradas de melhoria do transporte coletivo e limitação do uso do transporte individual. Concordo que não deve haver uma coisa isolada da outra.
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