domingo, 25 de fevereiro de 2007

Torcedor: a arte de ser sofista

Não importa quão ruim esteja o time do coração de um torcedor. Para ele, seu time é sempre o melhor. O time adversário nunca, em hipótese alguma, sob nenhuma condição, será superior. É assim entre ABC e América, Flamengo e Fluminense, Cruzeiro e Atlético, Grêmio e Internacional, Fortaleza e Ceará... Enfim, é assim em todo o Brasil, ou melhor, em todo o mundo.

Só que a realidade muitas vezes é cruel. O time não ajuda mesmo. O ataque não marca, o meio-campo não cria e a zaga é vazada. Mas para o torcedor não tem essa história. Ele pode até admitir perante seus iguais, seus companheiros de sofrimento, que o time não presta, mas jamais perante um adversário. E, para isso, ele precisa pedir socorro à filosofia. Mais especificamente ao sofismo.

Os sofistas foram filósofos que viveram na Grécia Antiga por volta dos séculos V e IV a.C. Famosos pelo domínio da retórica, eram professores viajantes que vendiam seus ensinamentos para alunos interessados em aprender as técnicas da argumentação e a serem eloqüentes para poderem impor seus interesses e argumentos nas assembléias das póleis gregas. Ficaram na história como profissionais persuasivos e capazes de desvirtuar a realidade e de enganar, se fosse preciso, para conseguir convencer – assim como os torcedores contemporâneos.

Certamente Protágoras, um dos maiores representantes dos sofistas clássicos, ficaria orgulhoso em ver a quantidade de flamenguistas utilizando-se de seus ensinamentos. Não interessa se nos últimos anos a única função do Flamengo tenha sido brigar para não ser rebaixado no campeonato brasileiro, pois ele é o “único time do Brasil a ser pentacampeão brasileiro” – “todo mundo tenta, mas só o flamengo é penta!” –. Há controvérsias, mas, enfim, em termos de sofismas os flamenguistas são muito bons. Isso não se pode negar.

Agora, no Rio Grande do Norte não há discussão: os abcdistas são imbatíveis! Não importa que o time não participe nem da 3ª divisão, e muito menos ainda que tenha perdido do América. São meros acasos. Um time que tem Adelino como esperança de gols, é o único do RN com estádio próprio – e que estádio! – e ainda é o time do estado com maior número de títulos não poderia jamais deixar de ser o melhor do Rio Grande do Norte. E tem mais: não tenho nem dúvidas que Protágoras também seria abcdista.
Caio Vitor